© Filipe Palma
MORNING SUN - 2009
1800 Pregos, 30 tábuas, 38 sarrafos, compressor, pistola de pregos, 2 turquesas. Pôr em equilíbrio, balançar para andar, construir, partir, testar limites, apoiar, deixar cair, concretizar pensamentos e raciocínios, descansar os braços, aumentar. Isto é madeira e não outra coisa. Montar e desmontar. O desejo e o espanto face ao que se revela. O poder da sugestão que permite o impulso, o reflexo, a escolha. Esperar. O que antecede o grande salto? Deixar em aberto a possibilidade de mudar de caminho. O objectivo é o motor… depois esquece-se. Morning Sun coloca em cena a construção de espaços em potência, cenários protagonistas onde as acções fazem, quase sempre, o papel secundário. É deixado ao espectador o tempo e o espaço de ler, de criar e completar as histórias que são enunciadas. O corpo dos intérpretes é, em Morning Sun, um corpo que está constantemente no registo funcional e no registo performativo, alternando estes lugares e muitas vezes fazendo com que estes co-habitem. Neste trabalho, duas pessoas habitam e constroem espaços, objectos e lugares. Traçam esboços de narrativas delineando histórias sem nunca as contar. Morning Sun é um jogo de equilíbrio entre o concreto e o simbólico, um permanente balanço entre a materialidade de uma situação e a sua capacidade evocativa.
Projecto - Márcia Lança
Criação e Interpretação - Márcia Lança e João Calixto
Apoio à Criação - Tiago Hespanha
Desenho de Luz - Alexandre Coelho
Produção e Difusão - VAGAR
Co-Produção - Tempo – Teatro Municipal de Portimão
Apoio à Residência - GDA Direitos dos Artistas
Residências - O Rumo do Fumo, ZDB Negócio
Apoio - Artistas Unidos, ALKANTARA, Atelier RE.AL, Lança & Filho Lda.
Classificação Etária - Maiores de 6 anos
Duração - 55’
Agradecimentos: ACCCA, A Tarumba, António Calixto, AntónioPedro Lopes, Sr. António, Bernardo Marques, Bomba Suicida, Cláudia Dias, Chef Parreira, Filipe Calixto, Fórum-Dança, Giacomo Scalisi, Ivo Serra, Mariana Lemos, Mariana Sá Nogueira, Nicolas Duquerroy, Nilton, Nuno Correia, Nuno Tomaz, Pastelaria Tentação, Pedro Sá Machado, Rajele Jain, Revigrés, Rui Alves, Rui Silveira e As Zebras.
Morning Sun por Cláudia Dias
Existe um livro para crianças editado pela Kalandraka intitulado “OH!” cujo autor, Josse Goffin, nos dá a
ver outras coisas para além da evidência. Assim, um peixe pode ser também um pássaro, uma chávena
um navio, um cachimbo um gato e por aí fora.
Quando me desafiaram a escrever um texto sobre a peça “Morning Sun”, de Márcia Lança, lembrei-me
desse livro precisamente por esta peça se estruturar nesse jogo em que uma coisa, não deixando de ser o
que é, pode ser outra também.
Se no livro o autor desenha a cauda de um gato a partir do bocal de um cachimbo aproveitando e
respeitando os traços preexistentes, na peça os materiais transformam-se pela acção dos intérpretes numa
espécie de magia pobre em que os truques estão à vista e em que nós, espectadores, somos
constantemente surpreendidos pelo Oh! da evidência outra.
O livro, aliando o lúdico ao educacional, constitui um instrumento eficaz no treino de um olhar plural, a
peça “Morning Sun”, ultrapassando a dimensão estrutural desse jogo, acaba por constituir um statment
artístico e político.
O despojamento da cena onde apenas existe o que é necessário, a presença simultaneamente funcional e
generosa dos intérpretes na medida em que os seus sujeitos se encontram sempre atrás do objecto que
produzem e a opção pela madeira enquanto material pretexto a partir do qual se edifica a matéria
dramatúrgica da peça, instalam uma atmosfera que nos remete imediatamente para a vida real.
Sabemos desde o início que não estamos ali para ser seduzidos pelo brilhantismo dos artistas ou pelo uso
barroco dos recursos do espectáculo. Não estamos ali para nos ausentarmos ou sequer
desresponsabilizarmos por um momento, porque não estamos perante uma intelectualização estéril ou
uma mentira onírica.
Estamos ali para partilhar um pensamento que se vai desenrolando no tempo correspondente e que no fim
podemos, porque estivemos sempre em diálogo, aceitar ou rejeitar.
E para mim é isto que “Morning Sun” tem de mais bonito e corajoso – o facto de nos tratar a nós,
espectadores, como iguais.
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