Estreia a 12 Out no LU.CA-Lisboa
Um dia a minha filha de três anos perguntou-me: “Mãe, o que é que há dentro do coração?”. Passei os dois dias seguintes a tentar formular uma resposta, não queria dizer-lhe apenas: “Elisa, o coração é um músculo! Um músculo que bombeia sangue para todo o corpo e que dentro tem quatro válvulas que regulam a passagem do sangue entre as suas cavidades. Existe uma válvula entre cada aurícula e ventrículo e uma válvula à saída de cada ventrículo. As válvulas entre as aurículas e os ventrículos são denominadas válvulas auriculoventriculares. E é isto, é isto que há dentro do coração.” Os meus lábios tremiam ao imaginar a cara dela ao ouvir esta resposta, uma expressão de desilusão profundo cobrir-lhe-ia o rosto. Tinha que ser mais complexo, parecia-me uma resposta demasiado simples, reduzir o coração a uma parte do corpo, um músculo, que coisa mais sem graça. E o amor? A poesia? O sofrimento? A dor? Essas coisas também estão dentro do coração, não estão? Ao fim do segundo dia tentando formular uma resposta, a única coisa que consegui foi acoplar mais perguntas, reflexões e questões à pergunta que ela me tinha feito: - Então e o Cupido? As suas setas provocavam ferimentos que despertavam amor ou paixão nas suas vítimas. Era no coração que se cravavam essas setas. Depois de enviado, por Vénus sua mãe, a Psique para que esta se apaixonasse pelo mais horrendo de todos os homens acabou por se ferir a si próprio apaixonando-se loucamente por Psique. - E a Branca de Neve a quem um caçador teria que tirar o coração como prova de morte da donzela mais bela de todo o reino? Não conseguiu, em vez do dela levou à rainha um coração de porco. - E o coração roubado, oferecido, comido, pedido, ferido, emprestado, prometido, dado, partido ao meio ou em bocados? É só um músculo que bombeia sangue? Como raio é que um músculo deu azo a tantas histórias de amor, de vingança, de inveja e ciúme tórrido, de dor, angústia e desejo?
LISBOA - PORTO - MADRID - PARIS
Demimonde . Maus Hábitos . Teatro Pradillo . Festival ArtDanthé
7 - 17 Fevereiro 2014
ANDRESA SOARES.ANTÓNIO PEDRO LOPES.GUI GARRIDO.LÍGIA SOARES.MÁRCIA LANÇA.NUNO LUCAS.VÂNIA ROVISCO
Situando-se entre uma versão actualizada da antiga emigração portuguesa para “ganhar a vida” e a procura de sentido e pertença dos beatniks, MEIO MUNDO ESTRADA FORA quer experimentar a viagem para ir devagar, para “viver” e não apenas “chegar, apresentar e voltar”.
O DEMIMONDE surgiu como um projecto de gestão de um espaço dedicado à criação e experimentação artística cedido pela Câmara Municipal de Lisboa, iniciado por duas estruturas independentes Máquina Agradável (Lisboa) e AADK – Arquitectura Actual da Cultura (Berlim, Portugal e Espanha) bem como por um conjunto de artistas de número variável.
DEMIMONDE foi também o instigador da CELEBRAÇÃO, Culturgest (2012), e dos eventos ORA BOLAS! HÁ ESPAÇO! VAMOS USÁ-LO! (2012) e DEMIMONDE NA GALERIA DA BOAVISTA (2013), ambos na Galeria Municipal da Boavista em Lisboa. Em todos os projectos o denominador comum é a reivindicação de uma força presencial e local de uma geração de artistas atentos aos percursos uns dos outros bem como a criação de uma maior autonomia na criação de contextos para o seu trabalho. Esta comunidade, muitas vezes em constante trânsito, cosmopolita, que não se enraíza, não deixa contudo de reclamar proximidade, presença e familiaridade.
MEIO MUNDO ESTRADA FORA visa a apresentação nacional e internacional dos trabalhos deste conjunto de artistas assim como a vontade de desenvolver novos modos de programação e diálogo entre artistas e programadores.
O projecto decorre durante o período de 10 dias, depois de um pontapé de partida no Demimonde, com as seguintes paragens para eventos de programação e apresentação, em conjunto com 3 diferentes parceiros:
LISBOA_DEMIMONDE_7 FEV
Sessão de trabalho em ambiente comensal aberta ao público geral e jornalistas que antecederá a partida do MEIO MUNDO ESTRADA FORA no dia 8.
DEMIMONDE- Rua da Boavista nº46 4ºesq (perto do Largo de São Paulo em Lisboa).
PORTO_MAUS HÁBITOS_8 E 9 FEV
Abertura + Live Installation de Vânia Rovisco + Melhor Amigo, António Pedro Lopes e Guilherme Garrido + DJ Party
9 - Domingo das 16h00 às 22h00
Atelier para crianças, Trompe Le Monde por Nuno Lucas e Márcia Lança Mecânica 1 de João Calixto e Márcia Lança + Peça Vermelha de Lígia Soares + Uma Noite No Porto com os artistas do DEMIMONDE
8 E 9 - vídeos Again de Márcia Lança e Julho, Uma Entrevista Com um Ursinho de António Pedro Lopes + instalação sonora Abstract Mechanics de João Lucas
www.maushabitos.com
MADRID_TEATRO PRADILLO_ 12 FEV
Era Uma Coisa Mesmo Muito Abstracta de Andresa Soares e João Lucas + Live Installation de Vânia Rovisco + Pongo Land de Nuno Lucas e Hermann Heisig + Melhor Amigo, Gui Garrido e António Pedro Lopes + Uma Noite em Madrid com os artistas do DEMIMONDE + vídeos Again de Márcia Lança e O Desejo Ignorante de Márcia Lança e Tiago Hespanha e Julho, Uma Entrevista Com Um Ursinho de António Pedro Lopes
www.teatropradillo.com
PARIS_ Festival ArtDanthé_14, 15 e 16 FEV
www.theatre-vanves.fr
PROJECTO GLOBAL CITY - LOCAL CITY
Quando pensamos numa cidade, imaginamos imediatamente espaços públicos: ruas, praças, museus e centros comerciais. Porém, sendo um espaço público, para os seus residentes a cidade é uma acumulação de espaços privados. Esta vasta rede é apenas visível quando ganhamos confiança com os habitantes da cidade. Neste Lab, iremos encontrar-nos e passar tempo com os residentes de Helsínquia nos seus espaços privados. Para muitos de nós, enquanto artistas, surge a certa altura o conflito entre privado e público. Como equilibramos família e trabalho? Como nos definimos fora do meio profissional? Temos direito a uma vida privada? Como definimos e lidamos com o privado na arte e na política? Pedimos aos anfitriões de Helsínquia para partilharem connosco os seus pontos de vista e estratégias acerca deste assuntos.
Estreia a 12 Out no LU.CA-Lisboa
Um dia a minha filha de três anos perguntou-me: “Mãe, o que é que há dentro do coração?”. Passei os dois dias seguintes a tentar formular uma resposta, não queria dizer-lhe apenas: “Elisa, o coração é um músculo! Um músculo que bombeia sangue para todo o corpo e que dentro tem quatro válvulas que regulam a passagem do sangue entre as suas cavidades. Existe uma válvula entre cada aurícula e ventrículo e uma válvula à saída de cada ventrículo. As válvulas entre as aurículas e os ventrículos são denominadas válvulas auriculoventriculares. E é isto, é isto que há dentro do coração.” Os meus lábios tremiam ao imaginar a cara dela ao ouvir esta resposta, uma expressão de desilusão profundo cobrir-lhe-ia o rosto. Tinha que ser mais complexo, parecia-me uma resposta demasiado simples, reduzir o coração a uma parte do corpo, um músculo, que coisa mais sem graça. E o amor? A poesia? O sofrimento? A dor? Essas coisas também estão dentro do coração, não estão? Ao fim do segundo dia tentando formular uma resposta, a única coisa que consegui foi acoplar mais perguntas, reflexões e questões à pergunta que ela me tinha feito: - Então e o Cupido? As suas setas provocavam ferimentos que despertavam amor ou paixão nas suas vítimas. Era no coração que se cravavam essas setas. Depois de enviado, por Vénus sua mãe, a Psique para que esta se apaixonasse pelo mais horrendo de todos os homens acabou por se ferir a si próprio apaixonando-se loucamente por Psique. - E a Branca de Neve a quem um caçador teria que tirar o coração como prova de morte da donzela mais bela de todo o reino? Não conseguiu, em vez do dela levou à rainha um coração de porco. - E o coração roubado, oferecido, comido, pedido, ferido, emprestado, prometido, dado, partido ao meio ou em bocados? É só um músculo que bombeia sangue? Como raio é que um músculo deu azo a tantas histórias de amor, de vingança, de inveja e ciúme tórrido, de dor, angústia e desejo?